NOTICÍA

Os tratores-robô e os pastores-drone chegam às explorações agrícolas

06 Set 2016

A nova maquinaria autónoma da Case IH converte-se na estrela das feiras agrícolas dos EUA e acelera a disrupção tecnológica no sector agrícola

Robôs que recolhem fruta e cuidam das colheitas. Drones que procuram uma cabeça de gado perdida. Poderiam ser algumas das múltiplas previsões retiradas de filmes de ficção científica como o Interstellar. Mas o futuro das máquinas autónomas desenhadas para alimentar a humanidade é real e a disrupção tecnológica está a começar a transformar de uma forma silenciosa muitos aspectos da milenária indústria agrícola.

O fabricante de tratores Case IH acaba de se converter na estrela da feira anual Farm Progress Show no Iowa, onde apresentou um prototipo de veículo autónomo que torna pequenos os carros que se desenvolvem em Detroit e Silicon Valley. A diferença é evidente relativamente ao modelo Magnum que se usa atualmente para trabalhar no campo. A cabina do condutor desaparece por completo.

Em seu lugar, equipa câmaras, sistemas de radar e GPS para poder ligar-se com o ambiente envolvente. O agricultor programa-o com uma aplicação no seu tablet e pode fazê-lo trabalhar de maneira simultânea com outros tratores. O veículo da Case IH gerou uma grande expectativa entre os assistentes, e não só devido ao seu agressivo design. Com 410 cv, é maior que outros conceitos convencionais.

A John Deere e a Agco também exploram novas tecnologias para melhorar as culturas e elevar a eficiência usando a mesma superfície de terreno. O potencial destas iniciativas é enorme. A consultora IDTechEx calcula que o mercado dos robôs e dos drones para a agricultura movimente já 3.000 milhões de dólares anuais. Que se triplicará a 10.000 milhões em 2022, para duplicar novamente em 2026.

O estudo expõe com detalhe o desenvolvimento que a robótica irá seguir nos distintos sectores da agricultura, desde o design da maquinaria até ao impacto no negócio agroquímico. A revolução AgriTech está já em marcha. Existem, por exemplo, milhares de sistemas autónomos em explorações que ordenham vacas, movimentam o alimento ou limpam as ubres sem necessidade de intervenção humana.

Mais produção, menos custos
A redução do custo da tecnologia GPS permite que cada vez mais agricultores se interessem por sistemas de condução autónoma para os tratores. A IDTechEx calcula que este ano se irão vender cerca de 300.000 veículos que integram estas inovações e projeta que se duplicarão para 660.000 unidades em 2026. “Existe uma necessidade maior em elevar a produção e reduzir custos”, assinala Research & Markets.

Amos Albert, conselheiro delegado da divisão de robótica da companhia alemã Bosch, calcula que a superfície dedicada ao cultivo deveria crescer a um ritmo de 3% anual para poder acompanhar o ritmo do crescimento da população. “Aqui é onde os robôs podem ter um papel fundamental”, assinalou num recente seminário dedicado à inovação tecnológica na indústria agrícola.

Há meio século, recorda Albert, um agricultor era capaz de produzir 2.500 quilos de trigo por hectare. Essa cifra é agora mais do triplo. A sua equipa desenvolve uma máquina autónoma que se chama BoniRob, desenhada para proteger as colheitas. O robô, que tem o tamanho de um pequeno carro, dispõe de um sistema que lhe permite analisar as imagens das plantas para identificar as ervas daninhas.

Desloca-se utilizando um radar semelhante ao que equipa os veículos autónomos da Google. Além disso, aprende acerca do terreno. Khasha Ghaffarzadeh, autor do estudo da IDTechEx, explica que a robótica permitirá um cultivo de “precisão”. O BoniRob está a desenvolver testes reais no campo. Há outros robôs semelhantes em fase de desenvolvimento. Amos Albert acredita que poderia inclusivamente aplicar herbicidas.

A demografia do campo, em paralelo, envelhece e torna-se necessária uma alternativa. A Universidade de Sydney responde a este desafio com um veículo robótico desenhado para auxiliar os produtores de gado, que, por sua vez, podem dedicar-se a desenvolver outras atividades enquanto a máquina vigila o gado. Avisa quando é necessária a intervenção humana e pode ser utilizado para determinar se o gado deve mudar de pasto.

Obstáculos
A irrupção tecnológica, no entanto, cria receio. Como assinalam os analistas do sector agrícola da JPMorgan Chase, será necessário tempo para que se adotem estas inovações porque o trabalho no campo depende enormemente do instinto. Uma máquina, por exemplo, não pode antecipar quando um animal ficará doente. Também há temor porque as grandes corporações as usem para compilar dados.

Outro obstáculo é o seu preço. “Os robôs requerem um investimento enorme”, assinalam na Research & Markets, “e há agricultores com métodos diferentes de produção e o mesmo robô não se pode utilizar em todos os tipos de exploração”. É o que sucede, por exemplo, com as máquinas autónomas colhedoras de fruta. “A fragmentação do mercado não incentiva o investimento”, acrescenta IDTechEx.

A tecnologia, em qualquer caso, evolui rapidamente. Mas, tal como no sector da automoção, antes de acabar com a imagem romântica do cowboy a cavalo devem esclarecer-se as implicações legais associadas ao uso destes veículos, como a deslocação dos tratores autónomos de um campo para outro por estradas públicas. Por isso, o trator da Case IH só começará a ser comercializado, na melhor das hipóteses, dentro de três anos.

As mesmas barreiras limitam o campo de ação dos drones, apesar de que no Japão começaram a usar-se helicópteros autónomos nos anos 90 para a fumigação. Os especialistas acreditam que os obstáculos legais começarão a reduzir-se em 2022 e isso permitirá que estas inovações ganhem escala. Nesse momento, explica Ghaffarzadeh, também começarão a ganhar valor os dados e as análises (big data).

Fonte: El País