NOTICÍA

Crise dos contentores afeta comércio global de alimentos

07 Fev 2021

Com a corrida global por contentores marítimos, a Tailândia não pode embarcar arroz, o Canadá acumula ervilhas e a Índia não consegue exportar a sua montanha de açúcar. O transporte de caixas vazias de volta para a China tornou-se tão lucrativo que até mesmo alguns transportadores de soja dos EUA têm de disputar contentores para abastecer os famintos compradores asiáticos.

"As pessoas não estão a receber produtos onde precisam", disse Steve Kranig, diretor de logística da IM-EX Global, transportadora que envia cargas como arroz, bananas e os chamados dumplings da Ásia para os EUA. "Um dos meus clientes envia de 8 a 10 contentores de arroz todas as semanas da Tailândia para Los Angeles. Mas só pode despachar 2 a 3 contentores por semana agora."

O problema central é que a China, que recuperou mais rápido da pandemia de covid-19, acelerou a sua economia com foco nas exportações e está a pagar prémios enormes por contentores, o que torna muito mais lucrativo mandá-los de volta vazios do que recarregá-los.

Há sinais de que as altas taxas de transporte têm elevado o custo de alguns alimentos. Os preços do açúcar branco dispararam para o nível mais elevado em três anos no mês passado, e atrasos nos embarques de soja dos EUA podem resultar em custos mais altos de tofu e leite de soja para os consumidores na Ásia, disse Eric Wenberg, diretor executivo da Speciality Soya and Grains Alliance.

Custos dos alimentos

Embora não seja totalmente atípico que contentores regressem vazios após uma viagem, as transportadoras geralmente tentam reabastecê-los para lucrar com as taxas de envio em ambas as direções. Mas o custo de transportar mercadorias da China para os EUA é quase 10 vezes maior do que na viagem oposta, favorecendo o envio de caixas vazias em vez de carregadas, segundo dados da Freightos.

No porto de Los Angeles, o maior dos Estados Unidos para cargas em contentores, três em cada quatro contentores que voltam para a Ásia viajam vazios em comparação com a taxa normal de 50%, disse o diretor executivo, Gene Seroka. Em Vancouver, os contentores permanecem nos pátios. Os terminais reduziram o tempo de transporte das caixas cheias para os navios de três dias para apenas sete horas, disse Jordan Atkins, vice-presidente do WTC Group.

"Não é possível receber o volume que temos aqui em Vancouver para devolver os contentores nessas janelas apertadas", disse Atkins. "Em geral, há dificuldade para embarcar leguminosas", disse, em referência a ervilhas e lentilhas. O Canadá é o segundo maior produtor mundial de leguminosas.

A Índia, segundo maior produtor mundial de açúcar, exportou apenas 70 mil toneladas em janeiro, menos de 20% do volume embarcado um ano antes, disse Ravi Gupta, presidente da Shree Renuka Sugars, maior refinaria do país.

O Vietname, maior produtor de café robusta, também enfrenta dificuldades para exportar. Os embarques caíram mais de 20% em novembro e dezembro, de acordo com Le Tien Hung, presidente da Simexco Dak Lak, segundo maior exportador do Vietname.

Em todo o mundo, alguns compradores de alimentos continuam à espera, enquanto outros suspenderam totalmente as compras, de acordo com os operadores.

Fonte: Bloomberg / Jornal de Negócios