Este artigo resulta de uma parceria entre o portal Comerciomaquinas.com e o projeto Produtores Florestais, uma iniciativa da The Navigator Company.

A instalação florestal deve adotar as melhores práticas silvícolas na realização das operações, que se resumem em quatro momentos que a seguir apresentamos para o eucaliptal: licenciamento, preparação do terreno, escolha da planta e plantação.

O início de um investimento é sempre uma etapa crucial em qualquer negócio, principalmente se este for um povoamento florestal que se espera manter no terreno por um período de gestão de 30 a 40 anos, sujeito a diferentes riscos.

De forma genérica, a plantação engloba toda a fase de planeamento até à prática de colocar as plantas no terreno, assumindo um papel importante pois grande parte dos custos de gestão ocorre nesta altura.

É importante conhecer as características do terreno em termos de aptidão para fazer crescer o eucalipto ou outra espécie florestal de elevado rendimento, e quais os principais riscos associados. A partir daí, a plantação deve ser planeada através da elaboração de um projeto florestal e da adoção das melhores práticas silvícolas na realização das operações florestais.

Para garantir o sucesso da plantação, o terreno deve estar húmido aquando da colocação das plantas na terra e haver previsão de chuvas para os dias seguintes. De um modo geral, a melhor época para esta operação estende-se desde o início de outubro, após as primeiras chuvas, até à primavera, antes do período seco. Mas a melhor forma de saber em que época plantar é através do histórico da região, através do conhecimento de quando é que tipicamente deixa de chover na primavera, se a região é usualmente afetada por geadas ou se costumam ocorrer picos de calor.

A plantação representa a primeira fase de operações na gestão de um povoamento florestal.

Licenciamento

A primeira etapa do ciclo de gestão de um eucaliptal corresponde ao licenciamento da área para que se possa realizar a plantação. Esta etapa é obrigatória e exige o cumprimento da legislação em vigor e boas práticas silvícolas.

O licenciamento é feito por técnicos habilitados pelo ICNF, que podem ser contactados através das associações de produtores florestais, grupos de certificação, ou outras empresas florestais. Obriga à realização de um projeto florestal a submeter ao ICNF, através da plataforma RJAAR (Regime Jurídico aplicável às Ações de Arborização e Rearborização), e à sua aprovação formal.

Toda a informação necessária à elaboração de um projeto florestal, bem como a legislação vigente referente às ações de arborização e rearborização, pode ser consultada no site do ICNF (Sistema de Informação RJAAR/SIICNF). Refira-se que algumas operações florestais têm regulamentação própria, como é o caso da aplicação dos produtos fitofarmacêuticos, a realização de fogo controlado e intervenções no domínio público hídrico.

Nos trabalhos florestais devem ser utilizadas boas práticas e os equipamentos de proteção individual, bem como respeitadas as indicações das fichas dos produtos e a legislação aplicável.

PREPARAR O TERRENO

Primeira fase de operações de campo, a preparação do terreno deve criar condições para o sucesso inicial da plantação, ou seja, para o desenvolvimento das raízes e crescimento inicial das plantas. Esta operação deve descompactar o solo (diminuir a resistência do solo à penetração das raízes das plantas); controlar a rebentação dos cepos, a biomassa resultante do corte e a vegetação existente; realizar o alinhamento da plantação; e facilitar a realização das operações seguintes (a plantação e a manutenção).

A preparação irá influenciar o número de plantas a colocar no terreno, pois determina o espaçamento das entrelinhas de plantação [ver gráfico à frente]. Como é uma das atividades florestais que mais impacte pode causar no ambiente, devem ser seguidas todas as indicações previstas no projeto florestal, desde a legislação vigente até a adoção de práticas silvícolas adequadas à tipologia da propriedade.


Controlar a rebentação dos cepos

Os cepos de eucalipto da plantação anterior podem ser mantidos no terreno, destroçando-os de modo a não rebentarem e competirem com a nova plantação. As técnicas mais utilizadas neste controlo são a alfaia enxó e a tesoura.

Os cepos podem também ser controlados pela aplicação de herbicida, alinhando a nova plantação entre as plantas desvitalizadas ou na antiga entrelinha. Esta técnica pode limitar a circulação de maquinaria, sendo mais útil em áreas de pequena dimensão, com baixo número de toiças (cepos) vivas no terreno.

O arranque e remoção dos cepos é menos desejável, pelo impacte que pode causar no solo (erosão e retirada de nutrientes).

A mobilização do solo deve ser feita em faixas, com uma operação de ripagem a uma profundidade de 50 a 70 cm

Controlar a vegetação e sobrantes do corte

A plantação é frequentemente dificultada pela presença de grande quantidade de ramos e cascas de eucalipto no terreno, ou mesmo vegetação. Uma das técnicas mais comuns para diminuir esta carga de biomassa é a utilização da gradagem, que deve ser superficial ao solo.

A vegetação e os sobrantes do corte também podem ser destroçados, queimados ou removidos do terreno.


Mobilizar o solo em terrenos planos

A mobilização do solo em terrenos planos ou ligeiramente inclinados (com declive até 25%) deve ser feita em faixas, soltando o solo na zona onde será feita a plantação. Deve ser feita em curva de nível para diminuir o risco de erosão e favorecer a retenção de água no solo, e aproveitando para definir o alinhamento de plantação.

A técnica mais comum nesta operação é a ripagem, feita a uma profundidade de 50 a 70 cm. Na maioria dos solos basta efetuar uma passagem utilizando um dente de ripper como alfaia de trabalho. Em solos pouco profundos (menos de 20 cm), ou muito pedregosos, são aconselhadas duas passagens, primeiro com dois dentes e depois com um dente, correspondente à linha de plantação. Em solos muito arenosos, é suficiente efetuar uma cova de plantação. Já em terrenos planos (inferior a 5%), e quando houver acumulação de água em excesso, será preciso armar o terreno em vala e comoro ou fazer valas de drenagem.


Mobilizar o solo em terrenos mais inclinados

Em terrenos com declive superior a 25%, estes devem ser armados em terraços ou banquetas. As plataformas devem ter 3,5 a 4 metros (base do terraço) e construídas com uma inclinação de pelo menos 2% de fora para dentro para evitar a erosão do solo.

A ripagem deve ser feita com três dentes de ripper, na zona mais exterior do terraço para criar a linha de plantação. Normalmente são utilizados dois rippers para estabilização da máquina e alfaia ou mesmo os três rippers, servindo o de fora como linha de plantação.

A preparação do terreno para a instalação de um povoamento florestal pode causar impactes no ambiente, minimizados pela adoção de práticas silvícolas adequadas à tipologia da propriedade e o respeito do projeto florestal aprovado.

A planta clonal é produzida através do enraizamento de estacas recolhidas a partir de um único indivíduo.

ESCOLHER A PLANTA

A escolha da planta é uma das decisões mais importantes no planeamento da plantação, porque não é feita apenas para a rotação atual (10 a 12 anos), mas também para as seguintes, pelo menos mais duas rotações, dada a possibilidade de gerir o eucaliptal em talhadia.

A planta de eucalipto pode ser de dois tipos, dependendo da sua origem. Assim, a planta pode ser proveniente de um processo de produção por sementeira ou por estaca (clonagem), como apresentamos noutro local desta edição.

A planta seminal é produzida a partir da germinação de sementes no viveiro. Pode ser proveniente de material florestal de reprodução distinto (MFR), que origina uma planta com diferente qualidade genética.

A planta clonal é produzida através do enraizamento de estacas recolhidas a partir de um indivíduo (clone). Por isso, todas as plantas do mesmo clone são cópias perfeitas umas das outras. Um clone selecionado é instalado em viveiro num sistema de parque de pés-mãe de onde serão colhidos os rebentos para fazer as estacas que, colocadas em tabuleiros a enraizar, formarão as novas plantas.


A planta certificada

A qualidade das sementes e das plantas florestais é um fator de primordial importância para o sucesso das plantações e o seu processo de produção e comercialização é regulado pelo Decreto-Lei nº 205/2003. O ICNF emite a certificação após inspeção aos viveiros, para garantir o cumprimento de todas as regras e procedimentos exigidos pela lei, bem como a qualidade fitossanitária das sementes e plantas produzidas e comercializadas.

Na venda de planta certificada de eucalipto, o viveiro tem de emitir o passaporte fitossanitário das plantas e o documento de fornecedor, que refere qual a categoria de material florestal de reprodução (MFR) que está a ser adquirido. Este pode ser de três tipos:
Material Selecionado, proveniente de uma região e selecionado com base no seu desenvolvimento (fenótipo);
Material Qualificado, obtido em pomares de semente, progenitores familiares, clones ou misturas clonais, cujos componentes tenham sido fenotipicamente selecionados a nível individual;
Material Testado, obtido em povoamentos, pomares de semente, progenitores familiares, clones ou misturas clonais, e desenvolvido no âmbito de um programa de melhoramento genético.


O número ideal de plantas por hectare

O número de plantas por hectare, também designado de densidade de plantação, depende da distância entre linhas, que é definida na preparação do terreno, e da distância das plantas na linha (compasso). De modo geral, condições mais favoráveis (mais chuvosas, com solos profundos) suportam um maior número de plantas/ha, embora haja um limite a não ultrapassar para evitar competição excessiva das plantas e perda de volume de madeira.

São aconselhadas as seguintes regras no eucaliptal:
• o espaçamento na linha não deve ser inferior a 1,5 m;
• o espaçamento na entrelinha não deve ser superior a 4 m, com exceção dos terraços, que deve ser inferior a 6 m;
• a densidade de plantas deve variar entre 1 000 a 1 600 plantas/ha (dependendo da qualidade do solo, se existem terraços, etc.).

A colocação das plantas deve respeitar as linhas e distâncias pré-definidas no projeto florestal.

COMO PLANTAR

Há vários equipamentos que podem ser utilizados para fazer uma plantação de eucalipto, mas na realidade pouco importa qual usar, desde que a operação seja bem feita. Tal como qualquer cultivo, a plantação florestal era realizada com enxada, mas nos últimos anos surgiram novos equipamentos, mais ergonómicos, que facilitam este trabalho. São, por exemplo, o tubo plantador e o ferro plantador.

Independentemente do equipamento de plantação, deve ser garantido que:
• o torrão (pedaço de terra pegado à jovem raíz) das plantas é bem molhado antes da plantação;
• o torrão é colocado de forma vertical no solo, para evitar enrolamento das raízes;
• o torrão é todo coberto de terra, incluindo até 2 cm do caule;
• a planta é colocada no fundo do sulco de plantação (rego ou vala), exceto em terrenos encharcados em que se deve preferir uma posição mais elevada [ver gráfico];
• a planta é sempre colocada no sulco central de ripagem, exceto nos terraços em que deve ser colocada no sulco exterior (onde há maior volume de solo), parte externa da plataforma do terraço.


A adubação na instalação

A adubação na plantação assegura um bom arranque do eucaliptal, pois promove a homogeneidade do povoamento e a adequada nutrição das plantas. Estudos desenvolvidos no RAIZ demonstraram a importância da aplicação de fósforo na adubação de instalação dos eucaliptais para potenciar o desenvolvimento das raízes das plantas. Cálcio, azoto, potássio e boro são também nutrientes nesta fase do ciclo, mas em quantidades menores.

A aplicação de adubos junto às plantas deve ser feita de forma cuidada. As plantas são ainda pequenas, com sistema radicular pouco desenvolvido, e ocupam um baixo volume de solo. A aplicação nesta fase de quantidades elevadas de adubo ou adubos pouco adequados pode levar à toxicidade das plantas e mesmo à morte das mesmas.